Como está o cenário museal?
Posso afirmar que temos três cenários a serem discorridos brevemente aqui nesse
texto reflexivo. Primeiro, o cenário mundial dos museus com os diversos temas em discussão, e o fechamento temporário da visitação presencial em
decorrência da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Segundo, o cenário brasileiro da
política museal e os museus no momento também afetados pela pandemia. Terceiro, o cenário do
nosso estado do Amazonas com um breve diagnóstico dos museus, a partir do que venho observando há
doze anos fazendo pesquisa.
Exposição"Hilma af Kint: mundos possíveis", Pinacoteca de São Paulo. Imagem para essa reflexão: três obras e três cenários que estão interligados. Fonte: Acervo pessoal, Rila Arruda, 2018. |
Os três cenários
Para começar, todos os museus do mundo tiveram que fechar temporariamente devido à pandemia do novo coronavírus, e no momento alguns países já estão
adotando novas medidas com a reabertura acontecendo. Antes da pandemia os museus já estavam num processo gradual de mudanças por variados motivos,
como descolonização, repatriação, interatividade digital, inclusão social, novos tipos de museus surgindo, debate sobre
o novo conceito oficial no Conselho Internacional de Museus (ICOM), formas de financiamento sendo repensadas,
curadoria compartilhada, dentre outras discussões vigentes.
Muitos desses museus já estavam com
visita virtual, principalmente no Google Arte e
Cultura. Devido à pandemia houve a necessidade de se adequar a uma nova
realidade, seja disponibilizando visitas virtuais pela primeira vez, seja por
palestras ou debates ao vivo nas mídias sociais, exposições virtuais, ou pelas atividades realizadas somente no
ambiente virtual na semana do dia do museu. Além do fechamento dos museus e mudanças para atividades virtuais nesse momento, ainda haverá na pós-pandemia os desafios a serem
enfrentados.
No cenário museal brasileiro, nós temos
uma história recente marcada por avanços, como resultados da
Política Nacional dos Museus lançada em 2003, da criação do Departamento de Museus dentro da
estrutura do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, posteriormente na criação em 2009 de uma autarquia
específica para o segmento, o Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM, e do Plano Setorial de
Museus com sua construção coletiva específica do Plano Nacional de Cultura (2010). Isso sem esquecer da importância dos pontos de memória espalhados pelo país.
Houve um aumento gradativo, ao longo desse tempo, na quantidade de museus pelo país, como hoje demonstra o
Cadastro Nacional de Museus com registro de 3.860 unidades, na plataforma
MuseusBr. Todavia, estamos passando por um processo de diminuição do orçamento
federal desde 2014, com tentativa de extinção do IBRAM em 2018, e sucateamento
dessa instituição desde a extinção do Ministério da Cultura (2019).
Devido à pandemia os museus brasileiros foram fechados em março de 2020. No dia 05 de junho de 2020, o IBRAM publicou um documento para quando houver a abertura gradativa dos museus pelos estados, com recomendações e medidas em tempos de Covid-19. Para acessar o conteúdo do documento no site do IBRAM: https://www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2020/06/Recomendacoes_Museus.pdf
No cenário museal do estado do Amazonas
muito se desenvolveu, principalmente a partir de 1997, entretanto ainda somos
marcados pelo descaso desde o século XIX. Hoje há uma concentração na capital,
com 30 museus, e por volta de 5 museus em outros municípios, isso sem
contar os que não estão mapeados das iniciativas comunitárias pelo interior do estado.
Diagnóstico do Amazonas
Pontos Positivos
Avanço significativo pós-1997; A maioria tem entrada
gratuita; Diversidade de acervos; 1 museu histórico sem acervo (interativo
digital); Presença de mediadores sem custos (guia ou monitor); Presença de
bibliotecas dentro de alguns; Temáticas amazônicas; Inciativa pioneira de museu indígena no Brasil, o Museu Magüta (Tiküna), em Benjamin Constant.
Pontos Negativos
Política historicamente do descaso
museal; Não cumprimento das funções do museu; Baixa presença dos
profissionais adequados a cada tipologia; Maioria com concepção de
museu tradicional; Ausências de planos museológicos; galerias e
centros culturais que atuam somente como museus; Baixa
rotatividade de exposições de curta e longa duração ou itinerantes; Ausências
de Planetário e de Museu de Ciências Naturais; A inadequação
grave de "museu casa" do Museu Eduardo Ribeiro; Apenas 1 museu possui setor de educação museal; A maioria dos municípios do estado não possuem museus; Baixa
frequência do público amazonense; Necessidade de estudos de
públicos; Necessidade da rede de museus, e sistemas estadual e
municipal.
Até o momento (26/06) todos estão fechados no Amazonas devido à pandemia.
Visita virtual dos museus estaduais no canal da plataforma Youtube da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas - SEC/AM: https://www.youtube.com/playlist?list=PLV0ZCXgGf-aNrmvatgz8UFyih2Kd9ZYfk
Questionamentos reflexivos
Quais serão os desafios de todos os museus do
mundo pós-pandemia?
Como impedir que o desmonte continue da política museal brasileira?
Como melhorar o cenário dos
museus amazonenses?
Rila Arruda - pesquisadora
Blog: museusdoam.blogspot.com
E-mail: rila.arruda@gmail.com
Linkedin: Rila Arruda
Instagram: @rila.ac
Publicado dia 26 de junho de 2020 às 17h.
Atualizado dia 28 de junho de 2020 às 15:11.
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O fechamento pela florescente República do Museu Botânico do Amazonas e a atual política empreendida pelos três níveis de governo são balizas temporais que demonstram a imcompreensão da importância da Amazônia como bioma e da cultura de seus povos originários
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