Cultura: etimologia à política cultural
E no dia nacional da cultura (05 de novembro), venho aqui publicar um breve artigo da origem da palavra cultura, passando pelo primeiro conceito antropológico até ao que hoje entendemos por política cultural. Nele resumo conhecimento acadêmico e política cultural. Obs: Aqui não uso o termo "Economia Criativa" (Indústrias Criativas) por considerar uma área transversal que não inclui apenas o campo cultural.
Rila Arruda da Costa[1]
A palavra CULTURA tem
sua origem no termo germânico kultur que
significava cultivo, podendo ser cultivo de vegetação ou cultivo de animais.
Apenas a partir do século XVIII o termo foi entendido também para cultivo
ativo da mente humana, sobretudo na Alemanha e na Inglaterra, já na França da
época o termo usado era civilization. Há
referências que mostram sua origem mais antiga ainda na Roma Antiga, da
etimologia latina do verbo colere (cultivar),
utilizado como refinamento pessoal (cultura da alma).
A
Antropologia nasceu, enquanto ciência, no século XIX, e tem a cultura como um
dos seus objetos de estudo (Antropologia Social e Cultural). O antropólogo
Edward Tylor foi o primeiro a conceituar a palavra cultura como: “todo complexo que
inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade”
(Cultura Primitiva, 1871). A Antropologia continuou trazendo mais conceitos ao
longo de mais de 100 anos de produção, seja nas correntes do evolucionismo
social, passando pelo culturalismo, pelo estruturalismo, até os
pós-colonialistas.
Na
Sociologia, a cultura como desenvolvimento no seio da sociedade industrial tem
como precursores os clássicos Max Weber e George Simmel. Entretanto, somente
nas criações dos conceitos de cultura de massas e de indústria cultural da teoria
crítica da Escola de Frankurt (Alemanha) e na influência da Literatura
nos Estudos Culturais (Inglaterra), a nova sub-área chamada Sociologia da
Cultura ganhou força. Na França, a Sociologia inaugurou os estudos de públicos
da cultura, dada ao longo caminho de políticas culturais percorridos naquele
país. Pierre Bourdieu foi o pioneiro nesses estudos de públicos como
objeto de análise sociológica.
Hoje
outras áreas do conhecimento têm também como objeto a cultura, todavia não
podemos deixar de frisar seu pluralismo – CULTURAS e
na sua dinamicidade – já que culturas humanas são DINÂMICAS como
nos mostra a própria História. Vale ressaltar que as culturas dos vegetais e
dos animais permanecem enquanto cultivos a partir de conhecimentos específicos.
Podemos resumir atualmente a definição em duas perspectivas gerais: 1 - todos os
aspectos de uma determinada realidade social (perspectiva macro); 2 - tradição, crenças e identidades (perspectiva micro). Alguns exemplos: culturas
brasileiras (diversidade cultural presente no país), cultura tikuna (uma etnia
que se expressa na sua totalidade), variados segmentos das artes (mesmo que
seja na sua falsa dicotomia entre popular e erudito), dentre outras formas de
expressão.
Portanto,
quando falamos de culturas, temos que pensar na sua existência simbólica, na
sua utilização econômica e enquanto aspecto que pode ser transformador através
da cidadania. Enquanto existência simbólica todos nós participamos quando
definimos significados inseridos num contexto. Há diferentes pesquisas
científicas dessa dimensão, sobretudo na Antropologia. Já a ECONOMIA DA
CULTURA existe por que os bens culturais podem ser vetor de circulação
de dada economia, no caso do capitalismo a cultura pode ser mercadoria
(principalmente as artes) e isso dá para mensurar o seu impacto num país através de
pesquisas. No Brasil não há muitas pesquisas quantitativas sobre as
cadeias produtivas da economia da cultura. Há alguns dados de indicadores
culturais de instituições públicas e duas pesquisas específicas*. Nos Estados
Unidos, para dar como exemplo, a INDÚSTRIA CULTURAL há
muito tempo ocupa um patamar alto economicamente daquele país, com os segmentos
do cinema e da música sendo
por muito tempo a segunda posição na economia, seguida da indústria bélica.
As POLÍTICAS CULTURAIS podem
ser públicas ou privadas. Quando se trada do papel do Estado as três dimensões
devem ser levadas em conta (simbólica, econômica e cidadã), assim como se deve produzir indicadores culturais
(pesquisas com dados quantitativos e qualitativos) para diagnosticar, mensurar
impactos da política realizada e projetar novas políticas para o
desenvolvimento de ações, programas e projetos. As políticas culturais do poder
público devem (ou deveriam) ter como objetivo a democratização dos bens
culturais para: reconhecimento da diversidade cultural, valorização da produção
artística, preservação do patrimônio cultural, garantia de acesso aos
equipamentos culturais públicos, acessibilidade, estabelecimento de instâncias consultivas e deliberativas para a democracia participativa, e nos incentivos à expansão da
economia da cultura.
O
monitoramento e a avaliação de políticas públicas, juntamente com informações e
dados da sociedade, vêm se mostrando com significativa importância para
planejamento e gestão. Nas políticas culturais isso é relativamente mais
recente, principalmente a partir da Política Nacional de Cultura (2010) com o
Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais - SNIIC. Em 2015, a
plataforma de dados do SNIIC foi substituída por uma nova chamada de “Mapas
Culturais”, com o objetivo de melhorar a inserção de dados e acesso, além de
integrar outros dados do extinto Ministério da Cultura (como a Rede Cultura
Viva, o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e o Cadastro Nacional de
Museus).
No Brasil há algumas pesquisas sobre HÁBITOS CULTURAIS dos brasileiros e PÚBLICOS de equipamentos culturais e eventos, como algumas realizadas em lugares específicos e as pesquisas de abrangência nacional, bem como os primeiros dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE em 2010, dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA também em 2010, uma pesquisa realizada pelo SESC – SP em 2013, e a pesquisa da JLeiva em 2018. Todas essas pesquisas são quantitativas com amostragem não censitária, logo não contemplam todo o universo brasileiro, entretanto, todas trazem evidências que o brasileiro não tem o hábito de leitura, não frequenta ou pouco frequenta equipamentos culturais, dentre outras atividades culturais mencionadas em todas essas pesquisas. Portanto, a cultura pode sim ser considerada uma área estratégica de desenvolvimento, seja para transformação social (cidadania) e seja também na economia da cultura, e isso só é possível dada sua própria existência enquanto produção simbólica de uma coletividade.
No Brasil há algumas pesquisas sobre HÁBITOS CULTURAIS dos brasileiros e PÚBLICOS de equipamentos culturais e eventos, como algumas realizadas em lugares específicos e as pesquisas de abrangência nacional, bem como os primeiros dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE em 2010, dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA também em 2010, uma pesquisa realizada pelo SESC – SP em 2013, e a pesquisa da JLeiva em 2018. Todas essas pesquisas são quantitativas com amostragem não censitária, logo não contemplam todo o universo brasileiro, entretanto, todas trazem evidências que o brasileiro não tem o hábito de leitura, não frequenta ou pouco frequenta equipamentos culturais, dentre outras atividades culturais mencionadas em todas essas pesquisas. Portanto, a cultura pode sim ser considerada uma área estratégica de desenvolvimento, seja para transformação social (cidadania) e seja também na economia da cultura, e isso só é possível dada sua própria existência enquanto produção simbólica de uma coletividade.
Links de Indicadores Culturais do Brasil*
Mapas Culturais:http://sniic.cultura.gov.br/
Panorama Setorial da Cultura
Brasileira: https://panoramadacultura.com.br/
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010): https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2013-agencia-de-noticias/releases/14494-asi-servicos-sao-destaque-no-setor-cultural.html
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -
IPEA (2010): http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/SIPS/101117_sips_cultura.pdf
Cultura na Economia
Brasileira - FGV (2015):
Painel de Dados do Observatório
do Itaú Cultural: (2020):
Públicos do setor cultural - Serviço Social do
Comércio - SESC (2013): http://www.sesc.com.br/portal/site/publicosdecultura/
Pesquisa sobre hábitos culturais em 12 capitais
brasileiras - JLeiva (2018):
Complemento sobre o Mercado de Artes no Brasil
Matéria no Nexo Jornal: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/04/07/Como-e-quanto-o-mercado-de-arte-%C3%A9-afetado-pela-crise
O Mercado de Arte Contemporânea no Brasil -
Programa Latitude Brasil (2015): http://latitudebrasil.org/media/uploads/arquivos/arquivo/4-pesquisa-seto_2.pdf
*Atualizado dia 21/04/2020.
Referências
COELHO,
Teixeira. Dicionário crítico de política
cultural; cultura e imaginário. São Paulo: Iluminuras, 2004.
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: Edusc, 2012.
FLEURY, Laurent. Sociologia da cultura e das práticas culturais. São Paulo: Editora
SENAC São Paulo, 2009.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990. v. 1.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990. v. 1.
KUPER, Adam. Cultura: a visão dos
antropólogos. Bauru: Edusc, 2002.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
SANTOS, José Luiz dos Santos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense,
1994.
WILLIAMS,
Raymond. Cultura. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1992.
[1] Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7121650474655087
Contato: rila.arruda@gmail.com
Contato: rila.arruda@gmail.com
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