Notas sobre um artista plástico no Amazonas - Ademar Britto Júnior | Semana Nacional dos Museus 2020
Aproveitando a Semana Nacional dos Museus trago um relato breve sobre meu pai, o artista plástico Ademar Britto. Natural de Salvador - Bahia, nascido em 1931, no bairro tradicional da Liberdade, na Estrada da Liberdade, filho de Domingos Joaquim de Britto e Edeuzuita Benta Britto. No seio de 13 irmãos, ele era o que mais tinha interesse por artes, seu pai alfaiate tocava violino nas reuniões de família. De família numerosa, não teve acesso fácil aos materiais de desenho, algo que gostava muito de fazer, então assim, treinava seus primeiros traços em papel de embalagem, em sacola de pão. Ainda durante a escola primária, pela sua aptidão, foi convidado para realizar um painel em Homenagem a Duque de Caxias.
Ademar Britto com sua obra ao fundo. Fonte: sem autoria do fotógrafo, acervo pessoal de Ademar Britto Júnior. |
Sua formação profissional foi extensa, aos 18 anos ingressou no Exército em Salvador e morou por vários estados brasileiros: Picos - Piauí, Cruz Alta - Rio Grande do Sul, Brasília - Distrito Federal, Rio de Janeiro - RJ, e Maceió - Alagoa. Devido a sua atividade de militar, posteriormente foi transferido para o Rio de Janeiro, tendo feito Farmácia e Bioquímica e em paralelo pintura na Escola de Belas Artes na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde foi aluno de Abelardo Zaluar, curso que não finalizou pois foi transferido para outra cidade. Após formado no curso de Farmácia, já no posto de farmacêutico do Exército, iniciou o curso de Medicina no Rio de Janeiro, sendo transferido para Manaus em 1973, onde graduou-se em Medicina na Universidade do Federal do Amazonas na turma de 1976, uma das primeiras do curso.
Coincidido com essa Semana Nacional dos Museus, tive a oportunidade de resgatar uma tela dele de 1974, pintada em Manaus nos seus primeiros anos na cidade, retratando uma cena na Bahia de duas mulheres em trajes típicos em frente à Igreja do Nosso Senhor do Bonfim, tela essa que ele ofereceu de presente a uma amiga e que veio a aparecer em 2020 no mercado secundário de arte. Esse fato me fez relembrar a trajetória dele como artista e o fato de que possui algumas obras na coleção permanente da Pinacoteca do Estado do Amazonas, que fica localizado no Palacete Provincial, na conhecida "Praça da Polícia" (oficialmente denominada de Praça Heliodoro Balbi). Local esse onde lecionou por muitos anos, junto a Moacir Andrade, um curso livre de desenho e pintura ao ar livre nas manhãs de domingo.
Imagem do quadro "Bahianas" de 1974. Quadro adquirido essa semana. |
Suas obras em óleo sobre tela são em sua maior parte figurativas, retratando o cotidiano dos lugares onde viveu, sendo o seu maior foco, o Amazonas. Ele evoca o imaginário dos hábitos e costumes do povo amazonense em um olhar de elogio. Um dos pontos fundamentais de suas pinturas são as cores vivas, que dão alegria ao invisível do dia-a-dia, que na sua sensibilidade ele via. Retratava uma vida serena, pacata, com céu azul e nuvens, que apesar da ausência de representação direta do Sol, expressava um dia bonito, agradável.
Imagem do quadro "Folclore" de 1974. |
Sempre questionei sobre as obras do meu pai, pedindo explicações, assim como nas viagens que fazíamos, anualmente, com extensivas e infinitas visitas aos museus. Ele sempre me instigou a refletir, a observar e a tirar minhas próprias conclusões, levando em conta as minhas experiências anteriores. Quando criança sempre falava que os seus quadros estavam incompletos, pois em uma fase ele não pintava os rostos das pessoas e nem os dedos. Hoje em dia, entendo, que essas pessoas poderiam ser qualquer um de nós, amazonenses.
O modo de vida que ele mostra é do pescador, do ribeirinho, uma pessoa lavando roupa à beira do rio, na feira, e acima de tudo as residências, com cores vivas, alegres, os núcleos familiares, retratados muitas vezes sobre palafitas suspensas, sempre muito coloridas.
Além da pintura, ele esteve envolvido com eventos socioculturais. No Rio de Janeiro fazia parte do grupo fundador da Banda de Ipanema, e em Manaus, também foi uns dos envolvidos na fundação da Banda do Mandy's Bar, a primeira banda do Amazonas, e foi também frequentador do Clube da Madrugada.
Exposição de Ademar Britto, Galeria do Largo, 2006. Fonte: divulgação da Galeria. |
Sua última exposição individual foi na Galeria do Largo em 2006.
Faleceu em 2009 na cidade de Manaus.
Relembrar a história dele é...
...também lembrar um pouco da história do Amazonas.
Ademar Britto Júnior
Médico e Colecionador de Arte
Instagram: @ademarbritto
Nota da autora do blog
O desenho (preto e branco) da obra "Casa V" de 2006, de Ademar Britto, está disponível para baixar e colorir, do projeto "Pintando uma Obra", na programação da 18 Semana Nacional dos Museus. Link para baixar a imagem está no Portal da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas - SEC: https://cultura.am.gov.br/portal/semana-nacional-de-museus/
Os cidadãos amazonenses estão ocupando virtualmente o Blog Museus do Amazonas, na Semana Nacional dos Museus 2020, devido à pandemia Covid-19.
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