"Museu para todos?" - Jackson Suriadakis | Semana Nacional dos Museus 2020

Quando a Rila me convidou para escrever sobre minha experiência em museus, eu, num relance, tive um vislumbre da minha primeira visita num museu. Na época eu tinha 12 anos e a escola nos levou ao Museu Amazônico, em Manaus. Eu lembro muito bem, pois no dia não havia nenhum guia ou algum tipo de mediador disponível pra nos explicar, simplesmente soltaram a gente lá dentro, demos uma olhada rápida e fomos embora. Foi frustrante! Eu nunca esqueci dessa visita.

Exposição "ComCiência" de Patricia Piccinini. 
CCBB SP, 2015. Fonte: Acervo Pessoal.

No primeiro período do curso que fiz em Turismo, na Universidade do Estado do Amazonas - UEA, em Manaus, a professora Maria Helena Fonsêca fez uma dinâmica em que deveríamos sair do grupo quando não tivéssemos ido em algum atrativo turístico. Na época, quase metade da sala nunca tinha pisado no Teatro Amazonas. A atividade serviu muito para mostrar sobre privilégios. Por isso, acredito numa política cultural que venha a ser fomentada para uma quebra das desigualdades.

Apesar de ser filho de uma artista plástica, até hoje sinto dificuldade e falta de interesse de ir por conta própria a um museu, mesmo já ter conseguido visitar vários até o momento, morando agora em São Paulo. Aqui eu aprendi a dar valor para os museus, pois há filas quilométricas para determinadas exposições. Também aprendi a valorizar os museus enquanto patrimônio do lugar em que vivo, quase como quem mostra sua casa para um amigo que o visita. Assim eu desenvolvi um sentido de que aquilo também me pertencia.

Exposição "Egito Antigo: do cotidiano à eternidade.
CCBB SP, 2020. Fonte: Acervo Pessoal.

Eu poderia falar de várias exposições e museus que me marcaram, mas vou citar a que mais me marcou: a exposição "Egito Antigo: do cotidiano à eternidade", no Centro Cultural Banco do Brasil SP. Eu e Rila pegamos a maior chuva na fila por quase duas horas, mas valeu muito a pena, pois eu nunca tinha visto uma múmia antes, e ainda tivemos mediação de uma educadora. 

Múmia Humana e Sarcófago da 25a Dinastia.
Exposição "Egito Antigo: do cotidiano à eternidade".
CCBB SP, 2020. Fonte: Acervo Pessoal.

Eu realmente me sinto privilegiado por morar em uma cidade com tanto acervo cultural, mas ao mesmo tempo fico refletindo que grande parte do acervo foi trazido de algum lugar. Também fico imaginando o porquê de algumas obras de arte (geralmente eurocêntricas e vanguardistas) terem mais valor e relevância que outras (as ditas regionais).

Quadro Juízo Final - Artista desconhecido (século XVIII), MASP.
Fonte: Acervo Pessoal.

Eu tenho certeza de que a chave para a sociedade se aproximar mais dos museus é uma educação museal que passe por todos. Uma pessoa explicando com toda empolgação e fazendo elas se transportarem pro mundo da exposição. Assim como alguém que lê um livro com empolgação e estimula a curiosidade nas crianças e pessoas que não têm o costume da leitura. Mais do que isso, as pessoas precisam primeiramente saber por que aquilo é importante, por que aquilo merece sua atenção. Em uma "era da ignorância", ciência, educação e cultura têm que mostrar a que vieram.



Jackson Suriadakis
Bacharel em Turismo - UEA 
Pós-graduado em Marketing
Linkedin: Jackson Suriadakis
Instagram: @jacksuriadakis
Twitter: @jacksure


Os cidadãos amazonenses estão ocupando virtualmente o Blog Museus do Amazonas, na Semana Nacional dos Museus 2020, devido à pandemia Covid-19. 

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