“Cemitérios e patrimônio cultural” - Fabíola Abess | SEMANA NACIONAL DOS MUSEUS 2020

Túmulo do senador Jefferson Péres, Cemitério São João Batista, em Manaus.

Foto: Fabíola Abess, 2011.


Antes da pandemia se alastrar pelo Brasil e das recomendações de isolamento e distanciamento social como medidas de prevenção ao coronavírus e o consequente fechamento dos museus para visitação, tive a oportunidade de fazer novamente algumas reflexões sobre a relação entre cemitérios e patrimônio cultural durante uma visita ao Cemitério da Consolação, em São Paulo. Essa é uma tour antiga com a qual me envolvi desde que comecei a fazer algumas leituras (procurem a história de Ária Ramos) - bem antes de estudar História da Arte no curso de Turismo, sobre personalidades sepultadas e suas curiosidades no centenário Cemitério São João Batista, em Manaus.


Escultura no túmulo de Ária Ramos, Manaus.

Fabíola Abess, 2011


Em um Dia de Finados, não recordo precisamente o ano, a prefeitura organizou uma programação especial neste dia com música ao vivo e visitação guiada no Cemitério São João Batista, localizado na Zona Centro-Sul da capital amazonense. Na ocasião, lembro que instalaram uma sinalização visual provisória com mapas e localizações de túmulos destas personalidades famosas, voltei algumas vezes ao cemitério para praticar fotografia para o curso de jornalismo, fiquei impressionada com a quantidade de Arte e História alí naqueles túmulos e esculturas. 


Túmulo de Serge Gainsbourg no Cemitério de Montparnasse, Paris.

Foto: Géssica Moreira, 2015


Alamedas do Cemitério Père-Lachaise, Paris.

Foto: Géssica Moreira, 2015


Anos depois, tive a oportunidade de visitar os famosos Cemitérios de Père-Lachaise e Montparnasse, ambos em Paris, locais onde estão figuras, como por exemplo, Édit Piaf, Jim Morrison, Alan Kardec, Oscar Wilde, Proust, (no primeiro). Os escritores Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre e o cantor Serge Gainsbourg, no segundo. Levei uma amiga que estava comigo nessa mesma viagem que achou a programação meio mórbida, mas no final eu acredito que ela tenha gostado porque vi que visitou o Cemitério da Consolação recente em posts no Instagram (risos). 


Sinalização do Cemitério da Consolação, São Paulo.

Foto: Fabíola Abess, 2020.


Cemitério, para muitos, é um assunto triste e que se procura evitar ou que se limita a crenças religiosas ou ao rito final que é a morte, entretanto, analisando por outro lado, como patrimônio abrem-se novas possibilidades, como a valorização e a conservação destes espaços e ocupação deles com atividades museais


Entrada do cemitério de Père-Lachaise.

Foto: Géssica Moreira, 2015


Sinalização do cemitério de Père-Lachaise.

Foto: Géssica Moreira, 2015


Potencial 


Nos dois cemitérios franceses encontrei uma estrutura mínima de sinalização, uma placa com mapa na entrada e identificações das sepulturas famosas. Vi também vários grupos de visitantes acompanhados por guias, fato mencionado em guias impressos e internet. Algo parecido com o que vi no Cemitério da Consolação, em São Paulo, no mês de março, quando observei algo interessante, uma demanda - mesmo que pequena naquele momento em que visitei com um amigo - de visitantes por informação suprida por guia, e um mínimo de estrutura para visitantes como sanitários bem conservados e bebedouros. Gostaria de ver mais atividades museais no Cemitério São João Batista, em Manaus.


Na Consolação, estão os túmulos de artistas, escritores e personagens históricos como Tarsila do Amaral, Monteiro Lobato, Mário de Andrade, Domitila de Castro, Marquesa de Santos, Líbero Badaró, e mais. 


Jazigo da Família Amaral, onde foi sepultada a artista plástica Tarsila do Amaral.

Foto: Fabíola Abess, 2020


Fazendo uma busca para me inteirar mais sobre esses espaços que também são locais de patrimônio cultural encontrei algumas informações, como:


  • A visita guiada no Cemitério da Consolação é gratuita, informações aqui;

  • Tem produção acadêmica recente sobre o tema (monografia e dissertação). A dissertação, em especial, discute a patrimonialização dos espaços cemiteriais com ênfase em duas necrópoles. Vale ler toda a análise que a autora fez, desde o resgate histórico da forma em que estes espaços, em geral, foram se transformando ao longo do tempo;

  • Os administradores da página Manaus de Antigamente costumam organizar visitas guiadas ao cemitério São João Batista;

  • O site Arte Funerária Brasil, organizado pela professora Maria Elizia Borges reúne informações sobre cemitérios de todas as regiões do Brasil, além de links para os artigos acadêmicos de autoria da pesquisadora;


Tenho planos de conhecer o cemitério da Recoleta, em Buenos Aires. E, quando voltar a São Paulo visitar os túmulos onde estão outras personalidades como Hebe Camargo, Ayrton Senna, Gugu Liberato e ver mais curiosidades sobre a arte funerária e História nestes locais. 


E você, já visitou algum cemitério com este olhar sobre patrimônio?


“A edificação tumular é uma forma de manter viva a memória e a identidade do sepultado. Assim como os cemitérios são lugares de preservação de memórias”. 

Elaine Maria Tonini Bastianello, 2016 


Fabíola Abess

Jornalista e Bacharel em Turismo

Especialista em Comunicação Empresarial e Mídias Sociais

Criadora de Conteúdo

Instagram: @viajecomfabi | Twitter: @viajecomfabi | Youtube: youtube.com/fabiolabess



Os cidadãos amazonenses estão ocupando virtualmente o Blog Museus do Amazonas, na Semana Nacional dos Museus 2020, devido à pandemia Covid-19.

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