Museu de Numismática Bernardo Ramos


A coleção numismática iniciou em 1887 com o amazonense Bernardo D’Azevedo da Silva Ramos, inicialmente com moedas japonesas, e depois com outras moedas, cédulas, medalhas, condecorações nacionais e internacionais e documentos históricos. Bernardo Ramos era um estudioso da arqueologia e viajou pela Europa, Oriente Médio e Egito, tornando-se um profundo conhecedor das línguas mortas, com isso facilitando a leitura de numerosas moedas. Bernardo Ramos exerceu vários cargos públicos, incluindo intendente municipal (vereador). Fundou o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) em 1917, sendo seu primeiro presidente, e também escreveu a obra arqueológica “Inscrições e tradições da América Pré-histórica”. Em 1898 adquiriu a valiosa coleção e respectiva biblioteca especializada do pernambucano Cícero Peregrino Dias, enriquecendo o seu acervo pessoal.
O governo do estado do Amazonas, através da lei n. 296 de 06 de outubro de 1899, autorizou a compra da coleção Bernardo Ramos e pelo decreto nᵒ402 de 20 de fevereiro de 1900 do governo de Ramalho Júnior “abre um crédito de trezentos contos de réis para ocorrer as despesas com a aquisição da coleção do Coronel Bernardo D’Azevedo da Silva Ramos”. No mesmo ano desse decreto a coleção foi exposta no Rio de Janeiro no mês de maio, no salão nobre do Externato do Ginásio Nacional, na comemoração do quarto centenário do descobrimento do Brasil. O presidente da época, Campo Salles, quando viu a exposição, quis comprá-la por 400 contos de réis, para fazer parte do acervo do Museu Nacional. O Estado comprou a coleção por 300 contos de réis e, em 30 de novembro de 1900 pelo decreto nᵒ 460, criou a Seção Numismática da Imprensa Oficial e seu Regulamento, dando origem legal ao museu. Bernardo Ramos, mesmo sabendo que perderia 100 contos de réis, vendeu a coleção para o Estado no intuito de fazer com que a coleção ficasse para o Amazonas.

Bernardo Ramos. Fonte: acervo do museu.

A coleção adquirida era de aproximadamente 10 mil peças, muitas desapareceram e parte do acervo de papel moeda se danificou com o tempo pela umidade e traças. O acervo era considerado, na época, o primeiro do Brasil, da América Latina e quarto do mundo em valor e importância histórica numismática. Ainda no ano de 1900 foi criado um catálogo da coleção em Roma, editado em quatro volumes, pela tipografia “Della R. Accademia Del Licel”. A coleção foi dividida em 24 vitrines, em madeira de lei (mobiliário tradicional entregue ao Estado em 1900) com cristal bisotado, e aberta ao público na sede da Imprensa Oficial na Av. 7 de setembro. 
Em 1908, a Seção de Numismática foi anexada à biblioteca (Repartição de Estatística, Biblioteca, Arquivo Público, Imprensa Oficial e Numismática). Depois o museu foi instalado no Palácio Rio Branco, sede da Secretaria do Interior e Justiça, hoje Centro Cultural Palácio Rio Branco. No dia 15 de junho de 1965 foi transferido para o Banco do Estado do Amazonas, onde permaneceu até 1970. Foi transferido em 30 de maio de 1970 para o imóvel alugado na Rua Henrique Martins por dez anos. Pelo decreto de novembro de 1980 o museu foi desativado e seu acervo recolhido aos cofres do Banco do Estado do Amazonas, onde ficou por mais dez anos.
A Superintendência Cultural do Amazonas, em 1990, nomeou uma comissão para reativar o museu. Foi reinstalado por iniciativa do artista Sérgio Cardoso no Comando Geral da Policia Militar e aberto a visitação. O governo do Estado, com a criação da Secretaria de Estado da Cultura, Esportes e Estudos Amazônicos em 1997, voltou a adquirir peças, como uma importante coleção de moedas de ouro e medalhas de vários países, do colecionador Ulisses Oyarzabal, cédulas Flor de Estampa, do Sr. Junot Carlos Frederico e algumas moedas da Casa da Moeda do Brasil. E mais ainda, medalhas comemorativas, além de doações de visitantes brasileiros e estrangeiros.
O museu foi transferido para o prédio da Vila Ninita em 2000, parte do Complexo Cultural Palácio Rio Negro, passando a integrar com outros equipamentos culturais, bem como o Museu da Imagem e do Som do Amazonas - MISAM, Pinacoteca do Estado do Amazonas, Espaço de Referência Cultural, Cine Teatro Guarany e o próprio Palácio Rio Negro. Em 2009, o museu voltou ao antigo prédio, que era antes Comando Geral da Policia Militar e passou a ser o Palacete Provincial. O museu permanece no Palacete Provincial até hoje  e divide o prédio com outros quatros museus estaduais: Pinacoteca do Estado, MISAM, Museu Tiradentes e Museu de Arqueologia. 

O Museu no Palacete Provincial. Foto: Romem Koynov, 2009.

O acervo é composto por moedas da Grécia Antiga, do Império Romano, moedas de porcelana e de couro, barras de ouro e prata, rara coleção de medalhas com as efígies dos papas, moedas com figuras dos reis da França, moedas de porcelana do Sião (hoje Sri Lanka), moedas espanholas com inscrições orientais, “zimbos” utilizados como dinheiro em Angola e usados nas operações de troca entre os africanos, moedas inglesas (com a menor do mundo, datada do reinado Victoriano), moedas absidionais holandesas cunhadas no Brasil no século XVII, moedas do Brasil em seus períodos de Colônia, Império e República, além de cédulas (incluindo as primeiras do Branco do Brasil de 1808), medalhas e condecorações (incluindo as valiosas do Segundo Império) e mais um acervo bibliográfico específico com algumas obras e documentos raros, somando 35.261.000 peças. Além de ser o maior acervo museológico estadual, o mesmo ainda é o museu mais antigo presente no Amazonas.

Rila Arruda
rila.arruda@gmail.com


*Texto atualizado retirado do livro Museus do Amazonas (2012) de minha autoria.


Referências

AGUIAR, Ronaldo. Guia Amazonas: ecologia, exotismo e biodiversidade. Manaus: Fundação Rede Amazônica, 2001.
AUBRETON, Thérese. Caminhando por Manaus (Cinco Roteiros Históricos da Cidade). Prefeitura Municipal de Manaus/Fundação Municipal de Turismo - FUMTUR, Manaus: 1996.
BRAGA, Robério. Palacete Provincial. Manaus: Edições Governo do Estado do Amazonas, 2009.
PEREIRA, Jeane Barbosa. Aplicando estratégias de marketing para divulgação do Museu Numismática Bernardo Ramos. Manaus, 2007. Monografia (Especialização em Museologia) - Departamento de Biblioteconomia, Universidade Federal do Amazonas.
VIEIRA, Lícia Margareth. Museu Numismática Bernardo Ramos. Série Memória, Biblioteca Virtual do Amazonas, Manaus, 2002.
Panfletos e outros informativos do Museu de Numismática.


Não reproduzir esse texto para outros sites sem minha autorização. Apenas usar como fonte, seja na citação direta ou indireta escrita ou falada, dando os devidos créditos da autora e do blog. Copiar sem autorização é Crime de Violação aos Direitos Autorais no Art. 184 – Código Penal Brasileiro.


Comentários

Postagens mais visitadas