130 anos de extinção do Museu Botânico do Amazonas | Falas (parte III)


Falas recebidas, especialmente para essa publicação, sobre a ausência do Museu 

"Hoje o Museu Botânico poderia ser considerado uma das mais antigas instituições museológicas junto ao Museu Nacional, e com grande importância científica e referência global" - Leandro Porto, bacharel em Museologia.

"A respeito da extinção do Museu Botânico do Amazonas é vergonhoso e até revoltante que num país e, mais especificamente, numa região com um acervo botânico tão precioso, com suas propriedades químicas, medicinais e até econômicas, um Museu desse quilate não tenha sido preservado, tenha existido oficialmente por apenas 7 anos! Faz-se necessária a reativação e a consequente preservação dessa memória, sob pena de se perder completamente tudo que foi pesquisado cientificamente, etnograficamente, incluindo os estudos sobre os índios, lendas e mitos da Amazônia" - Antonia Alves Castelo Branco, amazonense, aposentada e incentivadora da memória nacional, especialmente da nossa Amazônia.

"A extinção do Museu Botânico foi uma grande perda para os estudos da Amazônia, não somente do ponto de vista do conhecimento de um universo inexplicado, mas sobretudo, por seu levantamento e pesquisa farmacológica para o mundo" - Otoni Mesquita, Historiador, artista visual e professor.

"É sintomático reconhecer que o Museu Botânico do Amazonas desmantelou-se por não ter os devidos investimentos, e 130 anos depois a população amazonense, no geral, não apenas ignora a existência e o pioneirismo desse museu como os atualmente existentes seguem na luta para manterem-se erguidos" - Amanda Nina, Cientista Social e professora de Sociologia.

"Bom, o Museu Botânico do Amazonas, naquela altura foi o empreendimento científico mais significativo da Província. Em pouco tempo, o museu foi responsável pela catalogação de novas plantas, pela descoberta de fósseis e artefatos indígenas, bem como a publicação de estudos etnográficos e antropológicos, o que dá uma dimensão de sua importância e nos faz refletir sobre as benesses que teria dado ao Amazonas caso tivesse uma vida duradoura. A sua curta duração, de 1883 a 1890, é um exemplo de como, historicamente, nossas instituições científicas padecem com a falta de cuidados e investimentos" - Fabio Augusto de Carvalho Pedrosa, pesquisador e colunista de História do Jornal do Commercio de Manaus (coluna Memória JC).

"Os museus são importantíssimos para a preservação da memória e da identidade de uma determinada sociedade. A extinção de qualquer um desses patrimônios é uma perda gravíssima do ponto de vista cultural e de fontes que podem nos ajudar a entender o nosso presente, razão pela qual devemos conscientizar os indivíduos de uma comunidade a valorizar esses espaços. Para isso é importante contar com políticas públicas dada a necessidade da existência desses espaços na construção das intelectualidades e percepções da realidade numa esfera coletiva" - Deborah Viana, graduanda de Artes Visuais.

"Um museu botânico cumpre um papel essencial ao engrandecimento da identidade de um povo e sua relação com a fauna e a flora. Jamais deveria ter sido extinto e faz uma imensa falta" - Francinézio Amaral, Sociólogo e professor.

"O fechamento pela florescente República do Museu Botânico do Amazonas e a atual política empreendida pelos três níveis de governo são balizas temporais que demonstram a incompreensão da importância da Amazônia como bioma e da cultura de seus povos originários" - Kaká Bonates, Biólogo e mestre de capoeira.

"A criação do Museu Botânico da Província do Amazonas criado pela Princesa Izabel e tendo como seu diretor Barbosa Rodrigues foi um projeto de visão de futuro para preservar a fauna e flora da Amazônia. Infelizmente com a instalação da Republica, a inveja e a destruição dos feitos do Império foram destruídos. O Museu que tinha sua sede onde é hoje o Colégio Benjamim Constant foi desmontado em 24 horas e seu acervo foi jogado nos porões do Colégio Estadual do Amazonas. Barbosa Rodrigues deixou escrito mais de 300 trabalhos de  suas pesquisas na Amazônia, sendo sua obra prima o Sertum Palmario, obra que ele desenhou todas as palmeiras da Amazônia" - José Geraldo Xavier dos Anjos, Bibliotecário, e ex-presidente do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas - IGHA.

“Advindo das aspirações científicas da Princesa Isabel e com o vigor acadêmico de Barbosa Rodrigues o Museu Botânico do Amazonas, surgiu como uma tentativa de contribuição para resguardar e colecionar espécies da flora amazônica e da arqueologia, que infelizmente sem o apoio institucional necessário acabou se extinguindo em fins do sec. XIX. Hoje com o avanço da ciência no campo da biologia, botânica e arqueologia, nota-se quão importante eram o seu acervo, contribuindo de forma significativa para a taxonomia de espécies conhecidas das populações tradicionais da Amazônia, para o campo da ciência. E sem dúvidas, grande parte do espírito científico do INPA, advém desta época” - Eder Gama, Cientista Social, Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia.

"A história do Museu Botânico do Amazonas foi breve, mas tão importante que não deixa de ser lembrada mesmo após 130 anos da sua extinção. João Barbosa Rodrigues, que foi diretor do museu, não era nem do Amazonas, nem do Norte do país. Mas seu entusiasmo e sua dedicação para a construção desse marco na nossa história foram tão grandes e sinceros que, mesmo não tendo seus esforços bem reconhecidos como deveriam pelos nossos governantes da época, encontrou melhor reconhecimento ao se tornar diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ). E quando olhamos para o JBRJ não podemos deixar de pensar em quanta coisa poderia ter sido construída em todos esses anos, bem ali, no Centro de Manaus, se o Museu Botânico do Amazonas tivesse recebido maior incentivo. A criação do MUSA Jardim Botânico, em 2009, surge para renovar nossas esperanças e nos lembrar essa importante lição: precisamos valorizar nossos museus" - Priscila Mendes, criadora de conteúdo do Ma Petite Manaus: @mapetitemanaus

"O Museu Botânico do Amazonas em pleno funcionamento no século XIX significou, por pouco tempo, um modo diferente de fazer ciência na Amazônia, uma vez que todo o material coletado, classificado e analisado pelos naturalistas, viajantes, linguistas entre outros que andaram por aqui, sempre escoou para lugares de origem desses pesquisadores. E esse movimento continua até hoje. A Amazônia é vista pelos estrangeiros e pelos próprios brasileiros, infelizmente como um lugar de predação. Tudo é levado, pouco importando se as pesquisas irão contribuir para a melhoria de vida dos amazônidas. O fechamento do Museu foi um passo atrás por que destruiu umas das poucas tentativas de se construir uma História da Ciência na Amazônia. Ainda permanecemos na posição de colonizados" - Marilina Pinto, pesquisadora e professora.

"O Museu Botânico do Amazonas foi uma experiência auspiciosa e ousada num tempo em que museus eram raríssimos em nosso país. Sua criação apontava para a importância que essas instituições possuíam e ainda possuem como centros irradiadores não somente de um colecionismo predador (muito presente no século XIX), mas de uma prática museal comprometida com a produção de conhecimento, com o (re)conhecimento da vitalidade dos territórios e de suas especificidades. Certamente, faz uma enorme falta ao Brasil e ao Amazonas, em particular. Infelizmente, sofremos de um problema crônico de falta de apoio à ciência e aos museus, observado em toda a história das políticas preservacionistas em nosso país. A história dos museus e do patrimônio no Brasil também é a história do abandono e destruição intencionais de nossas potencialidades criativas, memoriais e políticas. Urge, portanto, musealizar o que foi a própria experiência de um museu amazônico na virada do século. Temos, hoje, um acúmulo teórico-metodológico na Museologia e nas diversas áreas conexas que nos permite pensar e recriar novas experiências a partir de museus extintos e de práticas descontinuadas. O fogo que queimou alguns, os desmontes que afetam outros revelam muito do que é o Brasil. Mas, a coragem e a persistência de muitos e muitas, como Barbosa Rodrigues em seu tempo e de Rila Arruda no tempo presente, demonstram que enquanto houver comprometimento com a sociedade e com vida, haverá museus e trabalho de memória" Saulo Moreno Rocha, museólogo do Museu de Arte da UFC e Conselheiro do Conselho Regional de Museologia – 1ª Região.



Rila Arruda, Ma. pesquisadora autônoma

Sociologia da Cultura & Antropologia Cultural

Blog: museusdoam.blogspot.com

E-mail: rila.arruda@gmail.com

Linkedin: Rila Arruda

Instagram: @rila.ac







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