Museus Extintos e Fechados no Amazonas

Aqui será discorrido, brevemente, sobre museus que já foram extintos e dos que estão fechados sem previsão de reabertura. Espero contribuir, virtualmente, para a reflexão do nosso descaso museal, como já dizia Joaquim Campos Porto aqui em Manaus: "O museu virou joguete de politicagem" (1891). Será recorrente e presente essa afirmação?

Museu Botânico e Museu Amazonense: os primeiros museus

O primeiro museu foi criado em 1883 em Manaus, o Museu Botânico do Amazonas dirigido por João Barbosa Rodrigues, e extinto em 1890, sendo uma iniciativa da princesa Isabel (Período Imperial) e extinto pelo governo local (início da República). No acervo possuía coleções botânicas, antropológicas, arqueológicas e paleontológicas, além do laboratório de química e biblioteca.

O Museu Botânico é considerado também a primeira instituição científica, muito antes da criação da Universidade Livre de Manáos (hoje UFAM) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA. Se estivesse ativo, provavelmente, seria nos mesmos modelos científicos do Museu Paraense Emílio Goeldi no PA, do Museu Paulista (Ipiranga) em SP e Museu Nacional no RJ, já que todos esses tiverem seu apogeu científico antes das criações das universidades, dos quais hoje são vinculados.


Segundo prédio (o mais amplo) destinado ao Museu Botânico do Amazonas.
Hoje o mesmo lugar fica o Instituto Benjamin Constant com outra arquitetura.
Fonte: acervo Instituto Durango Duarte.


A segunda iniciativa parte do governo local com a criação do Museu Amazonense em 1895 com o objetivo de dar continuidade ao Museu Botânico, mas infelizmente acabou sendo extinto em 1900 novamente pelo governo. Na sua curta trajetória, nunca houve condições mínimas para o funcionamento. Até houve um projeto de construção de prédio dentro de um parque, mas nunca foi realizado. Todo o acervo desapareceu e a biblioteca está no INPA na sessão de obras raras. 

Projeto do prédio do Museu Amazonense nunca executado.
Fonte: Biblioteca Virtual do Amazonas.

Museu Rondon: coleção privada

O primeiro museu privado, em Manaus, do qual que se tem notícia é o Museu Rondon do proprietário Crizantho Jobim entre os anos de 1917 a 1934, com localização na Rua Epaminondas no Centro, segundo dados publicados por Mário Ypiranga Monteiro. Em 1926 a Intendência Municipal concedeu auxílio financeiro na aquisição da coleção para Instituto Histórico e Geográfico do Amazonas – IGHA.

No ano de 1934 foi criado o museu no IGHA chamando-se Museu Etnográfico Crizantho Jobim, com permanência até os dias atuais no primeiro piso do IGHA. Esse museu possui o acervo museológico mais antigo juntamente com o acervo estadual do Museu de Numismática Bernardo Ramos (1900). Atualmente está sem horário fixo para visitação.

Museu Crizantho Jobim no IGHA
Fonte: acervo Douglas Machado.

Museu Comercial do Amazonas: ideia do J.G. Araújo

A proposta do Museu Comercial do Amazonas foi dada pelo Joaquim Gonçalves de Araújo, dono da empresa J.G Araújo, em 1912 para ser um espaço de exposições de objetos regionais. Em 1942 o museu entrou em funcionamento na sede da Associação Comercial do Amazonas – ACA, no Centro de Manaus.

Foram feitas diversas tentativas para manter financeiramente o museu privado com incentivos fiscais. Em 1957, o museu foi reorganizado na sede da ACA e já havia 14 mil peças no seu acervo. O museu foi desativado em 1970 e seu acervo encaminhado para um depósito da ACA.


Museu do Porto: federal a municipal

O prédio do museu é datado de 1903 e nele funcionava a casa de força que fornecia energia ao Porto até 1977. A organização do acervo começou em 1981 pela Administração do Porto de Manaus, sendo criado somente no dia 28 de janeiro de 1985.

Segundo poucas referências publicadas sobre o museu, no seu acervo possuíam antigas máquinas de navios, uma locomotiva, mobílias, instrumentos de engenharia, antigos relógios, desenhos de projetos, diários, mapas, plantas, cartas de navegação, fotos e documentos sobre a história da navegação no Rio Amazonas e sobre a construção do porto.

O museu foi fechado para reforma no final da década de 1990 e não voltou a funcionar desde então. Há alguns relatos de saques e desaparecimento de parte de seu acervo, mas nada foi informado oficialmente. No ano de 2008 foi iniciada uma tentativa de recuperação do prédio e do acervo, mas não houve reabertura do museu e, desde o final de 2017 a Prefeitura de Manaus, por contrato de comodato, está com a guarda do museu sem previsão de reabertura ao público.

Ato Simbólico pela reabertura do Museu do Porto.
Fonte: Acervo Ilana, julho de 2017.

Museu de Ciências Naturais da Amazônia: a biodiversidade

Foi inaugurado, pela colônia japonesa do Amazonas, no dia 15 de junho de 1988 na comemoração dos 80 anos da imigração japonesa no Brasil com presença do príncipe do Japão. O museu tinha o objetivo de divulgar a preservação da biodiversidade da Amazônia e era administrado pela Associação Naturalista do Amazonas.

No acervo continha mais de 200 animais empalhados de diversas espécies, bem como insetos, borboletas, besouros, cigarras, gafanhotos, baratas, barbeiros e aranhas. Havia um complexo de tanques e aquários na exposição de peixes vivos.

Foi fechado em 2012 por problemas financeiros. Inicialmente estaria fechado para conseguir recursos e realizar melhorias para a Copa do Mundo 2014, mas não acabou sendo reaberto e consequentemente desativado. Há relatos da dispersão de seu acervo, mas nada foi informado publicamente.

Fachada do Museu
Fonte: http://amazontower.net/po/museuinf.html

Museu de Balbina: a ruína

Na Vila de Balbina, no município de Presidente Figueiredo, há o Museu de Balbina que, no momento, encontra-se fechado e em estado avançado de ruínas. O edifício em seu aspecto arquitetônico foi planejado pelo renomado arquiteto Severiano Mário Porto, na década de 1980.

Inicialmente foi denominado de Centro de Proteção Ambiental – CPA com um laboratório de avaliação dos impactos ambientais causados pela construção da Hidrelétrica de Balbina. Os animais mortos com a inundação das terras foram recolhidos e empalhados para formar o acervo do CPA. A instituição preservava a memória das várias perdas e prejuízos causados com a construção da hidrelétrica.

O acervo do museu era composto por artefatos indígenas dos Waimiri Atroari, animais empalhados e fragmentos arqueológicos. Os documentos pertencentes ao centro encontram-se espalhados e somente o acervo indígena foi resguardado, pelo Programa Waimiri Atroari, até que se resolva a situação do museu.

Museu de Balbina
Fonte: acervo Angélica Maia, 2010.



Pesquisa e Texto: Rila Arruda
Contato: rila.arruda@gmail.com 

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Referências

AUBRETON, Thérèse. Caminhando por Manaus. Manaus: Fundação Municipal de Turismo – FUMTUR. PREFEITURA DE MANAUS, 1996.

COSTA, Rila Arruda da Costa; PINTO, Marilina C. Oliveira Bessa Serra. Museus do Amazonas. Manaus: Edua, 2012.

DUARTE, Durango. Manaus: entre o passado e o presente. Manaus: Editora Mídia Ponto Comm, 2009.

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